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Vida, morte e ressurreição

17 de outubro de 2016

Estamos entrando em uma nova fase no Brasil que talvez melhore a ansiedade sobre as incertezas políticas e econômicas que vivemos nos últimos meses.

É fato que nos últimos anos acreditamos no crescimento e nas promessas de agentes políticos que utilizaram de populismo e expansionismo para promover o tão sonhado desenvolvimento do Brasil, porém sem cuidar dos lastros econômicos para a sua perpetuidade. Por instantes vivemos o deslumbre do “sonho americano” de sucesso e prosperidade e esquecemos-nos de nos preocupar com o amanhã.

E o que aconteceu? O amanhã virou o hoje e nos demos conta de que não fizemos a lição de casa!

Se analisarmos o comportamento das empresas, é fácil constatar que elas, em sua maioria, performaram seus lucros somente pela ótica de caixa sem dar a devida importância para a ótica econômica, ou seja, nos últimos anos, as empresas brasileiras viveram como se nunca fossem morrer e morreram como se nunca tivessem vivido. Muitos quebraram sem saber, antes mesmo da crise chegar, pois aumentaram suas dívidas e não se preocuparam em renovar suas estratégias (longo prazo).

A lição aprendida é que precisamos mudar, buscar melhorias constantes, mesmo com o vento a favor, pois o que vemos hoje é reflexo de uma alavancagem e estímulo de crédito sem a devida responsabilidade de planejar o futuro.

No fundo fomos penalizados por um comportamento sistêmico de aumentar o nível de endividamento pela empolgação do “agora chegou a nossa vez”.

Tudo bem que hoje existe uma expectativa de que a mudança de governo tornará as políticas econômicas mais responsáveis, e já sabemos que em mercados emergentes como o nosso “qualquer movimento financeiro tende a ser amplificado”, mas o mais importante é não esquecermos de que ainda existe muita dívida a ser paga, e que a expectativa em relação a economia brasileira já vem sofrendo uma transformação considerável.

No começo do ano, vimos agências de risco, como a Fitch Rating, retirar o grau de investimento do Brasil, atribuindo uma perspectiva negativa para 53% das empresas, das quais apenas 6% têm perspectiva positiva. Segundo eles, o fluxo de caixa das companhias neste ano deve cair para níveis inferiores aos verificados na última década. A Fitch considera que apenas 19% das empresas emissoras de papéis, com ratings internacionais, têm forte capacidade de enfrentar os desafios de 2016 sem danos a seus perfis de crédito.

Sentimos uma mudança também no comportamento dos bancos, que retraíram crédito em um cenário de incertezas, um exemplo é o Itaú BBA que já criou uma superintendência de reestruturação, que vem atuando diretamente na análise de indicadores de seus clientes com o objetivo de precaver operações desastrosas. Ou seja, até mesmo eles tiveram que sair da simples análise de Rating de Risco, prática mandatória nos últimos anos, para voltar a análises de crédito mais estreitas e próximas de seus clientes.

Porém, já é possível sentir uma onda de reação econômica após o impedimento da ex-presidente Dilma relacionada a agentes externos que voltaram a colocar os países emergentes na mira do capital financeiro.

Não será fácil o renascimento do mercado, pois temos uma dura missão de administrar um cenário de retração da economia combinado com o aumento de impostos e a incerteza de investidores.

Nos próximos anos, o aumento de “lucro” será um esporte para poucos, porém a lição de casa precisa ser feita, precisamos de uma boa base política, econômica e social para sairmos desse cenário.

A boa notícia são as apostas dos fundos de Private Equity no Brasil, que renderam mais do que a bolsa de 2006 a 2014. Isso significa que existe uma melhor aceitação de investimentos de fundos privados em empresas de médio porte, podendo ser uma boa opção para os empresários que precisam captar investimentos para o crescimento dos seus negócios.

Temos todos os ingredientes para a ressurreição da economia brasileira, porém, teremos que nos atentar na ordem em que cada um deles será colocado, na forma com que serão misturados e no tempo certo que esse pão irá crescer para ser dividido.

Como disse Adam Smith no clássico livro A Riqueza das Nações: “Não é da benevolência do açougueiro, do cervejeiro ou do padeiro que esperarmos nosso jantar, mas da consideração que eles têm pelo seu próprio interesse.” Então teremos que trabalhar arduamente sem esquecer-se da lição do crescimento sem responsabilidade, do comodismo de não nos preocuparmos com a economia, do medo de competir e cooperar com o mercado e da ampliação de negócios com passos maiores que as pernas.

Agora, o que nos resta é somente o trabalho árduo e a fé na ressurreição da economia brasileira. Como dizem, orar e vigiar, eu digo, trabalhar e acreditar.


Rafael Gomes
Diretor da Ucon Advisors, atua há mais de 15 anos na gestão e reestruturação de empresas de médio e grande porte com foco na aplicação das principais ferramentas e metodologias de gestão empresarial. É formado em Administração de Empresas com MBA em Gestão Financeira, Auditoria e Controladoria e especialista em M&A.

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